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DREX: inovação ou a maior ferramenta de vigilância financeira do Brasil?

O DREX é a versão digital do real, criada e controlada pelo Banco Central.

DREX: o Real Digital do Brasil


Do TED e DOC ao PIX: a primeira revolução

Gráfico em queda com a bandeira do Brasil ao fundo, representando incertezas econômicas.
O Real Digital pode trazer eficiência, mas também levanta dúvidas sobre impactos econômicos e sociais.

Por décadas, transferir dinheiro no Brasil era sinônimo de burocracia, tarifas e espera. O DOC demorava até o dia seguinte para cair. O TED só funcionava em horário bancário e, muitas vezes, custava mais de R$ 10 por operação. Essa realidade fazia parte do cotidiano, até que em novembro de 2020 o Banco Central do Brasil lançou o PIX.

O impacto foi imediato. Gratuito para pessoas físicas, instantâneo e disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, o PIX quebrou paradigmas. De acordo com relatórios do próprio Banco Central, em poucos meses já movimentava valores maiores que TED e DOC juntos. Os bancos, que lucravam com tarifas, precisaram se reinventar. O PIX mostrou que a inovação regulatória pode ser tão disruptiva quanto a tecnológica.


DREX: o próximo passo ou uma ameaça?

Representação gráfica de uma moeda dourada com a palavra DREX em destaque sobre circuito digital.
O DREX surge como a versão digital do real, controlada pelo Banco Central.

O DREX, batizado oficialmente como Real Digital, é a tentativa do Banco Central de dar um salto além do PIX. Diferente de uma criptomoeda, ele é uma CBDC (Central Bank Digital Currency) — uma moeda digital emitida e controlada pelo próprio Banco Central, lastreada em reais.

Segundo documentos oficiais do Banco Central, o DREX não vem para substituir o PIX. O PIX continuará sendo o meio de transferir dinheiro de forma rápida e gratuita no dia a dia. O DREX, por outro lado, é o próprio dinheiro digital oficial, capaz de liquidar operações — ou seja, registrar de forma definitiva um pagamento — e de movimentar ativos tokenizados, como imóveis, títulos ou contratos transformados em registros digitais. Isso significa que o DREX abre espaço para uma economia digital mais integrada, com contratos inteligentes e novos serviços financeiros, sem eliminar o papel do PIX.


Nada de reconhecimento facial: mitos e realidade

Mulher usando reconhecimento facial em smartphone para autenticação digital.
Apesar dos rumores, o Banco Central não prevê uso obrigatório de biometria facial em cada transação do DREX.

Circulam na internet rumores de que o uso do DREX exigirá reconhecimento facial para cada transação. Porém, segundo o próprio Banco Central, não existe qualquer previsão oficial nesse sentido. As transações seguirão os mesmos protocolos de segurança já existentes no sistema financeiro, podendo evoluir em autenticação, mas não há exigência confirmada de biometria facial em cada operação.

Isso mostra como é importante separar informação oficial de especulação. O DREX ainda está em fase de testes e não possui definições finais sobre o formato de autenticação.

Fonte: Banco Central (FAQs oficiais, 2023/2024).


PIX e DREX: irmãos ou concorrentes?

O PIX é uma ferramenta prática para o dia a dia. O DREX, em tese, não substituirá esse papel, mas funcionará como dinheiro digital nativo, com liquidação automática e programável.

Comparando os dois:

  • Finalidade: PIX = transferências instantâneas | DREX = moeda digital programável.
  • Custo: PIX gratuito para pessoas físicas | DREX ainda em discussão (tendência de gratuidade para pessoas físicas).
  • Controle: PIX operado via bancos | DREX sob gestão direta do Banco Central.
  • Rastreabilidade: ambos rastreáveis, mas o DREX amplia a capacidade de auditoria.

Oficialmente, o Banco Central reforça que os dois coexistirão. Mas, em termos de percepção pública, não está claro se a população sentirá o DREX como vantagem ou como mais uma camada de vigilância.


Rastreabilidade: segurança ou vigilância?

Moeda dourada com a inscrição DREX, acompanhada de olhos vermelhos em fundo escuro, simbolizando vigilância e controle.
O Real Digital levanta debates sobre eficiência e riscos de excesso de controle estatal.

O PIX já permite rastrear todas as transações bancárias — e isso é usado para combater crimes financeiros. O DREX promete levar essa rastreabilidade ao extremo: como moeda digital estatal, cada movimento é totalmente auditável.

Do ponto de vista oficial, trata-se de segurança, combate à lavagem de dinheiro e maior eficiência regulatória. Mas do ponto de vista crítico, há riscos óbvios: centralização de poder, fragilidade da privacidade e possibilidade de uso político do dinheiro.

É aqui que surge a tensão. Será que o mesmo recurso que permite mais segurança também abre portas para restrições de uso? Até onde o Estado pode acompanhar e programar o nosso dinheiro?


E o dinheiro físico?

Moedas de real sobre cédula brasileira, simbolizando a moeda física em circulação.
Mesmo com o DREX, o dinheiro em espécie continuará circulando no Brasil.

O DREX não substituirá o real em espécie. De acordo com comunicado oficial do Governo Federal em janeiro de 2025, as cédulas e moedas continuam a circular normalmente. O Banco Central reconhece que o dinheiro físico atende hábitos de consumo e usos que a moeda digital não cobre.

Portanto, a chegada do DREX não significa o fim do papel-moeda — mas pode reduzir gradativamente sua participação nas transações do dia a dia.

Fonte: gov.br (2025).


Impactos no sistema financeiro e na sonegação

Para os bancos, o DREX pode representar perda de protagonismo na intermediação, mas também uma chance de explorar novos serviços digitais. Isso inclui, por exemplo, oferecer carteiras digitais integradas ao DREX, plataformas de investimento em ativos tokenizados, ou até criar linhas de crédito automáticas vinculadas a contratos inteligentes.

O Banco Central argumenta que a tokenização de ativos poderá democratizar investimentos e baratear crédito. Isso significa que ativos que antes só estavam acessíveis a grandes investidores — como imóveis de alto valor ou títulos — poderão ser divididos em frações digitais e vendidos em partes menores, permitindo que mais pessoas invistam com pouco dinheiro. Além disso, como os contratos são digitais e automáticos, o custo operacional das transações pode cair, refletindo em crédito mais barato.

Outro ponto crucial é o combate à sonegação fiscal. Com a rastreabilidade ampliada, será mais difícil esconder transações. Isso aumenta a transparência do sistema, mas também reforça a percepção de vigilância permanente sobre o cidadão.

E isso é bom ou ruim?

  • Bom: porque reduz a evasão fiscal, aumenta a arrecadação e pode fortalecer os serviços públicos.
  • Ruim: porque o cidadão comum passa a ter menos privacidade financeira e mais risco de sofrer sanções automáticas sem amplo debate público.

Nossa opinião: eficiência ou controle?

Moedas de Bitcoin sobre cédula de real, simbolizando a comparação entre criptomoedas e o DREX.
Enquanto o DREX será controlado pelo Banco Central, o Bitcoin oferece descentralização e autocustódia.

O PIX já revolucionou pagamentos no Brasil: barato, instantâneo e rastreável. Portanto, é legítimo perguntar: o que o DREX traz além disso?

Segundo o Banco Central, a resposta está na programabilidade do dinheiro — contratos inteligentes, liquidação automática, novos modelos de crédito. Mas essa mesma programabilidade pode ser lida como capacidade de restringir e condicionar o uso do dinheiro.

É justamente aqui que entra o ponto mais delicado: quem decide as regras do dinheiro digital? Se a moeda é pública e programável, até onde vai a liberdade do cidadão? E se amanhã um governo quiser impor restrições arbitrárias, terá a tecnologia em mãos para isso.

Essas questões levantam outro ponto: será que o avanço do DREX não pode acelerar a migração de parte da população para moedas digitais não-estatais, como o Bitcoin, em busca de autonomia e resistência à censura?

O que está em jogo não é apenas eficiência, mas a relação entre liberdade individual e controle estatal sobre o dinheiro. Por isso, o debate precisa ser público, transparente e crítico. Antes de aceitar o DREX como inevitável, é dever do cidadão consultar as fontes oficiais do Banco Central, comparar com análises independentes e tirar suas próprias conclusões.

No final das contas, a decisão sobre o DREX ficará a cargo do Banco Central, seguindo diretrizes do Conselho Monetário Nacional. Isso significa que a população terá pouca ou nenhuma influência direta nesse processo. A realidade é que grande parte dos brasileiros está mais preocupada com assuntos triviais — como quem venceu o jogo de futebol de ontem, qual casal de celebridades se separou ou as fofocas das redes sociais — do que em cobrar seus representantes. O brasileiro, muitas vezes, só reage quando a água já está batendo na bunda. Se medidas restritivas forem impostas ao DREX no futuro, será tarde demais para reclamar.

Moeda de Bitcoin posicionada sobre notas de real brasileiras de diferentes valores.
O avanço do DREX pode impulsionar parte da população a buscar alternativas como o Bitcoin.

Outro ponto de reflexão envolve a promessa de que a tokenização de ativos democratizaria investimentos e baratearia o crédito. Em teoria, transformar imóveis, títulos ou outros bens em frações digitais permitiria ampliar o acesso a esse mercado. Mas, na prática, o alcance dessa ideia é limitado. Bancos e corretoras sempre avaliam o risco de cada investidor e definem limites de aplicação baseados em sua renda e perfil financeiro. Isso significa que a simples divisão de um imóvel em cotas menores não transforma automaticamente uma pessoa de baixa renda em potencial comprador de um ativo milionário. O poder de compra continua condicionado à renda, ao crédito e à capacidade de assumir riscos. Portanto, ainda que a tokenização reduza barreiras tecnológicas e de liquidez, ela não elimina as desigualdades estruturais do sistema financeiro. A visão do Banco Central soa atraente no papel, mas pode esbarrar na realidade econômica da maioria dos brasileiros.

Essa é a nossa visão: acreditamos que todos nós deveríamos nos aprofundar de verdade nesse assunto e, a partir disso, cobrar aqueles que elegemos para nos representar — essa mesma corja que, ano após ano, pouco ou nada faz pelo povo. Mas a verdade é que muitas vezes nós mesmos falhamos. Não buscamos entender o que está acontecendo, não nos informamos como deveríamos e, por consequência, não cobramos. Preferimos gastar energia com futilidades — fofocas de famosos, reality shows, polêmicas vazias — enquanto deixamos passar os temas que realmente impactam o nosso futuro.

Darlis A. Amorim

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